03 outubro 2011

Hilda Ofélia

A imagem abaixo está num recanto do Centro Português de Fotografia, ampliada e iluminada pela retaguarda. Representa Hilda Ofélia, filha de Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931) e tem atribuída a data de 1908.
Aurélio tinha o hábito de enviar postais fotográficos aos clientes e amigos. Para além da filha, este postal está carregado de símbolos, dos valores e das referências do fotógrafo, cineasta, floricultor, romântico e revolucionário: um busto da República – antes de ter sido implantada em Portugal – um globo terrestre, livros de autores maçónicos, duas garrafas de vinho do Porto, uma camélia e fotografias da mãe, da mulher e dos filhos.


Luís de Pina, cinéfilo e crítico de cinema, escreveu que o nome Paz dos Reis foi dado ao pai de Aurélio – filho de um miguelista ferrenho - para recordar o fim da guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel. Aurélio, por sua vez, acabou por baptizar os filhos com nomes invulgares: Homero Áureo, Horácio Fortunato, Hugo Virgílio e a nossa Hilda Ofélia. Hilda e Homero faleceram em 1919, vítimas da gripe pneumónica que ceifou 60 000 vidas em Portugal. Horácio morreu em França na 1º Guerra Mundial, em 1918. Rudes golpes.
Foi o filho de Hugo Virgílio, Hugo Cândido da Paz dos Reis, que depositou no CPF, em 1997, o espólio de Aurélio, com a condição de não ser retirado do Porto.
Algo que nunca vi escrito e me foi dito por Paula Paz dos Reis, bisneta de Aurélio, sobre a razão de existirem poucos filmes do homem que pela primeira vez rodou uma manivela de cinema em Portugal: os filhos dele, crianças, entretiveram-se a queimar parte das películas de nitrato de celulose filmadas pelo pai.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu sabia da história da brincadeira com os celuloides. Não me lembro exactamente em que contexto, mas julgo que no Documentário da RTP dedicada ao Século XX português. Mas entristece-me sempre que me lembro dessa história.

mfc disse...

Uma foto que é um marco histórico... e uma legenda fantástica!
Gostei imenso de todas as notas históricas que nos transmitiste.

Duarte disse...

A fotografia é um documento dum valor incalculável, uma maravilha.
Não conhecia o que aqui nos contas e sinceramente foi uma leitura que possui o dom de emocionar, por empolgante.
Um episódio mais da nossa historia magnificamente documentado. Obrigado pela divulgação.
Abraços

Maria José disse...

essa fotografia da Hilda tem uma magia inexplicável...não lhe resisti ao visitar o CPF... conheço um bisneto de Hugo Cândido (também Hugo) que preserva a memória de Aurélio Paz dos Reis com uma dedicação extrema correndo-lhe na alma a mesma veia artística, como um íman para a fotografia...

Parabéns pela nota

m.j.

Manuela Poitout disse...

Quem morreu em França, de púrpura infecciosa, foi Homero Áureo, em 27-02-1919.